sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Projetos"

O uso de projetos nas escolas está cada vez mais frequente, e é dever do professor estar sempre atualizado com isto, é de suma importância que ele (a) saiba o que é projeto, como se deve trabalhar com projetos, e tudo mais que envolva projetos.
Abaixo alguns textos que auxiliaram os futuros professores e os atuais também.


“TEXTO 1”

“Quando usar projetos”

“Projetos”

Além de oferecer, como já assinalamos contextos nos quais a leitura ganha sentido e aparece como uma atividade complexa cujos diversos aspectos se articulam ao se orientar para a realização de um propósito – permitem uma organização muito flexível do tempo: segundo o objetivo que se persiga, um projeto pode ocupar somente uns dias, ou se desenvolver ao longo de vários meses. Os projetos de longa duração proporcionam a oportunidade de compartilhar com os alunos o planejamento da tarefa e sua distribuição no tempo: uma vez fixada a data em que o produto final deve estar elaborado, é possível discutir um cronograma retroativo e definir as etapas que será necessário percorrer, as responsabilidades que cada grupo deverá assumir e as datas que deverão ser respeitadas para se alcançar o combinado no prazo previsto. Por outro lado, a sucessão de projetos diferentes – em cada ano letivo e, em geral, no curso da escolaridade – torna possível voltar a trabalhar sobre a leitura de diferentes pontos de vista, para cumprir diferentes propósitos e em relação a diferentes tipos de texto.


“TEXTO 2”

"Projetos Escolares: A Motivação para Aprender"

Como profissionais da educação, quando pensamos em uma sala de aula, buscaram logo as soluções que sejam mais interessantes e viáveis para que os alunos tenham interesse e participação quanto aos conteúdos abordados.
Sabemos que existem as grades curriculares com os conteúdos adequados a cada série, que acabam dificultando o fazer do professor quanto a elaboração de uma temática onde todos esses possam se encaixar. Isso realmente seria impossível, mas o professor deve planeja-los e organiza-los de acordo com o centro de interesse da turma, de forma interdisciplinar, buscando uma fusão desses conteúdos. Pode-se, por exemplo, numa aula ciências, fazer experiências concretas, como uma receita de bolo, mostrando o processo de mistura, fermentação e após, solicitar que os alunos façam uma produção de texto do trabalho realizado, para avaliar os aspectos de linguagem escrita, gramática, vocabulário, criatividade e desenvoltura em português.
A proposta de se trabalhar com projetos é justamente a de proporcionar uma ambiante favorável ao saber. Por isso propomos que os temas sejam escolhidos juntamente com os alunos, para que esses se sintam valorizados em suas opiniões e que tenham prazer em estudar e pesquisar aquilo que "querem" e, principalmente, percebam que a sala de aula não é o lugar onde deve-se engolir os conteúdos passados pelos professores, mas um espaço aberto de trocas de conhecimento.
Os temas da atualidade se tornam mais interessantes para as séries do ensino fundamental, como ao aquecimento global, poluição, preservação do meio ambiente, biocombustível, dentre vários outros. Já os conteúdos antigos, como os de história, podem ser resgatados e comparados ao mundo moderno.
É importante que o professor promova espaços para pesquisas, discussões em grupo, montagem de painéis referente aos temas, maquetes, enfim, tudo aquilo que se tornar centro de interesse dos alunos, podendo aprofundar o estudo e o conhecimento a cada dia. E que esses materiais sejam acumulados podendo tornar-se ponto de culminância do estudo, em uma feira ou mostra científico-cultural.
Com certeza, com essa abertura, o sucesso acontecerá, pois um grupo ativo, motivado e envolvido produz muito mais do que os acostumados à passividade.


"TEXTO 3"

“Projetos nas escolas combatem a violência com lições simples”


Racismo, brigas, bullying e outros comportamentos agressivos estão sendo combatidos pelas escolas em diferentes projetos que ensinam a cidadania. Em mais uma reportagem especial, integrante do projeto Televisando o Futuro, você fica sabendo quais são as atitudes tomadas por pais, professores e alunos no combate ao preconceito.
Alunos da Escola Municipal Durval Pinto, em Apucarana, desenvolvem um projeto orientado pela professora Maria Madalena das Neves, que se inspirou no livro "Qual é a cor do amor?", para criar um teatro que coloca um elefantinho, vítima de preconceito, na busca pela cor do amor. A iniciativa surgiu para combater casos de racismo, que vinham se tornando frequentes, mesmo entre crianças pequenas.
Ela realizou a leitura do livro dos alunos e incluiu os jovens estudantes no desenvolvimento de atividades conscientizantes, que acabaram ganhando um caráter multidisciplinar, que ajudaram a mudar o comportamento das crianças.

Em Cambé


No Colégio São José, professores criaram um lema para ser repetido como um mantra na escola: trate os outros da forma pela qual você gostaria de ser tratado. Alunos, funcionários e professores refletiram sobre a frase.
Outra iniciativa bacana realizada no colégio foi a série de palestras sobre regras. Profissionais de diversas áreas foram convidados a ir ao colégio para conversar com os estudantes. Eles falaram sobre as regras presentes em suas áreas de atuação. O resultado superou as expectativas: as crianças passaram a compreender que regras fazem parte do comportamento social.



"TEXTO 4"


"ELL"

O projeto ELL é um programa internacional e inovador que envolve alunos, educadores e pesquisadores e que visa o ensino da língua inglesa como ferramenta para tornar a criação cultural concreta e significativa, auxiliando as relações sociais e culturais da criança no ensino fundamental, possibilitando, um desenvolvimento intelectual mais sólido para o educando.

O uso das novas metodologias como ferramentas no ensino da língua inglesa nas séries iniciais, desenvolve as potencialidades individuais e ao mesmo tempo o trabalho coletivo, no intuito de promover a interação e a integração dos atores no projeto. Nosso projeto envolve o uso da internet como ponto de comunicação entre os profissionais e alunos do Brasil e dos Estados Unidos, além de ser utilizada nas rotinas das aulas, nas quais nossos alunos acessam websites previamente pesquisados e aprovados pelo projeto, que disponibilizam atividades interativas na língua inglesa, de forma a tornar o ensino do idioma uma atividade rica e interessante, além de reforçar os conceitos aprendidos em sala de aula. Utilizamos também materiais de alta qualidade produzidos nos Estados Unidos especialmente para crianças. Estes livros ricamente ilustrados, trazem para a sala de aula a realidade e a ficção de forma divertida e educativa.
Nosso projeto foi desenvolvido com base em quatro pontos principais:
- Capacitação
- Enriquecimento
- Oportunidade
- Intercâmbio


O projeto ELL atende as crianças a partir de 04 anos de idade e em sua primeira fase, está sendo implementado nas cidades de Piraí e Rio das Flores no estado do Rio de Janeiro e na comunidade do Candeal em Salvador - Bahia.





"TEXTO 5"

“Projetos substituem séries e disciplinas em escolas brasileiras”.


​Os 820 alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, no Butantã, zona oeste de São Paulo, não sentam em fileiras. Eles não estudam para provas e dificilmente acompanham uma explicação no quadro-negro. Realizam suas atividades em um grande salão e, com as tarefas em dia, têm tempo para participar de oficinas que vão de aulas de dança à produção de um jornal. Baseado em princípios como cidadania, autonomia e responsabilidade, o trabalho busca desenvolver habilidades que vão além do currículo tradicional. "Nós queremos formar pessoas conscientes de seu dever na sociedade", diz a diretora, Ana Elisa Siqueira.
Depois de alfabetizados, os alunos são divididos em dois salões - de 3º a 6º anos e de 7º a 9º -, onde realizam tarefas propostas por meio de roteiros. Um exemplo: para aprender sobre personalidades da história mundial, deve ler um texto sobre o músico brasileiro Pixinguinha, no livro de português; observar pinturas de Debret na parte de história; responder a questões a respeito de Brasília e Oscar Niemeyer, propostas na apostila de geografia. Em 15 dias, cumprem cerca de 18 objetivos - todos desenvolvidos com base nos livros didáticos indicados pela Secretaria de Educação de São Paulo. Como resultado, escrevem uma espécie de relatório sobre o que aprenderam que é entregue e analisado pelo tutor.
É o aluno que decide qual o próximo roteiro a ser executado. "Ele faz a opção dentro de um leque de possibilidades. Isso não significa que outras coisas não devam ser propostas. Essa liberdade não significa fazer o que quer, mas querer o que faz. O fato de haver a opção por determinado assunto torna o aluno mais responsável, porque é uma decisão dele", diz Ana Elisa. Concluídos todos os roteiros previstos para o ano, é possível partir para a proposta da série seguinte. Quem não consegue não é reprovado: a criança inicia um novo ano terminando as atividades que deixou pendente, para então acompanhar o restante da programação. Além das atividades de salão, há aulas de português, matemática e inglês - ministrado em uma sala com quadro-negro -, além de educação física.
Ainda que estejam em fase de desenvolvimento, a diretora, Ana Elisa, garante que os alunos têm consciência de suas responsabilidades. "As crianças passam a compreender o processo pessoal de aprendizagem. Elas vão aprendendo a lidar com as questões de tempo, espaço, quantidade de trabalho. Não é um processo individual, mas pessoal", diz. O primeiro ano, em fase de alfabetização, tem aula em uma sala convencional, mas já começa a viver experiências próprias do trabalho criado na década de 1970, na Escola da Ponte, em Portugal.
Nos salões, que existem desde 2004, circulam professores de diversas disciplinas, orientados a auxiliar alunos nas suas dificuldades. As crianças e jovens ficam sentados em grupos de quatro, não necessariamente da mesma faixa etária. Uma vez por semana, reúnem-se com um dos tutores, que ficam responsáveis, cada um, por cerca de 20 estudantes. Todos os dias, há um momento reservado para uma roda de conversa, quando alunos e professores relatam experiências, trocam informações e resolvem possíveis dilemas da rotina escolar.
Márcia Carini é mãe de um dos alunos que agora vai para o ambiente conhecido como salão. A jornalista, que conheceu a escola por meio de uma amiga, chegou ao Amorim para ministrar uma oficina de produção jornalística. "O método é muito democrático. As outras escolas costumam excluir quem não consegue acompanhar, mas a ideia é um ajudar o outro. Com isso, os alunos que são bons se sentem estimulados, porque ajudam quem tem dificuldade, enquanto quem tem dificuldade é amparado por um colega. Existe um espírito de cooperação", diz.
O fato de se tratar de uma escola pública também chamou a atenção de Márcia. Ela acredita que seu filho, antes matriculado em uma escola particular, convivia com um grupo bastante homogêneo. A nova realidade diversificou seu círculo social. "Meu filho não pediu um brinquedo sequer no ano passado. Essa convivência com pessoas diferentes o fez entender que lápis e borracha não dão em árvore. Ele se vê valorizado e valoriza também", destaca.
Um exemplo na esfera privada é o da escola Lumiar, também de São Paulo, que atende crianças e jovens de quatro meses a 14 anos. Lá também não há divisão por séries, e todas as semanas os alunos participam de assembleias para tratar se assuntos relacionados à escola. Assim como no Amorim, todo o aprendizado é embasado pela legislação, mas ele acontece por meio de projetos. "Os padrões são muito mais abertos em comparação a escolas ou livros didáticos tradicionais. Há muita flexibilidade para trabalhar os conteúdos", explica a diretora pedagógica do Instituto Lumiar, Célia Maria Piva Cabral Senna.
Ela acredita que saber buscar a informação é mais importante do que decorá-la. "Hoje em dia é ilusão achar que alguém vai saber todos os conteúdos. Hoje o acesso a informação é fácil, mas isso não significa aprendizado", diz. A diretora pedagógica reconhece que alguns alunos possam ter problemas quando partem para escolas diferentes. "Alguns relatam um pouco de dificuldade em disciplinas de maior memorização, mas isso não causa nenhum grande trauma", afirma.


Família precisa estar alinhada com os valores da escola
Sem uma rotina de testes e provas, a adaptação de um aluno à metodologia de uma escola convencional do ensino médio ou ao vestibular é um questionamento comum entre quem conhece as diretrizes de instituições inspiradas na Escola da Ponte. Para a professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Orly Zucatto Montovani de Assis, a resposta está na bagagem acumulada durante os anos de aprendizado alternativo. "Esses alunos têm consciência de como se constrói o conhecimento, eles sabem que método pode utilizar porque vêm de um aprendizado em que um erro corrigido vale mais do que um acerto imediato", afirma. Na opinião da especialista, um dos grandes acertos de instituições como a Escola da Ponte e a Amorim Lima está no fato de que a proposta prevê que os próprios alunos corrijam seus trabalhos junto ao professor, reconhecendo seus erros.
Ainda assim, existe uma preparação para Vestibulinho de escolas técnicas, por exemplo. No Amorim, pais de alunos ministram oficinas com simulados e dicas para as seleções. O método fora do convencional causa estranheza em algumas famílias. Para a diretora, a reação é natural. "Normalmente, o pai que coloca o filho em uma escola pública pensa que é tudo igual. O Amorim cria um diálogo com a família desde o início. Tivemos vários casos de famílias que não concordaram com o projeto e levaram o filho para outro lugar", diz. Ana Elisa acredita que o projeto familiar é o que define como será a adaptação do aluno ao ambiente. "Há quem prefira colocar seu filho em uma sala com classes enfileiradas, em que muda o professor quando o sinal toca e a lousa está cheia de conteúdo. Se a família busca formar alguém competitivo, que queira ser o melhor, preciso buscar outra proposta", acrescenta.


Idealizador da Escola da Ponte explica projeto
Em uma realidade tão diferente daquela com a qual a maioria dos alunos está acostumada, o papel dos professores é fundamental. Idealizador da Escola da Ponte, que inspirou as instituições brasileiras, o educador José Pacheco explica que a ideia é que os projetos não sejam preparados apenas pelo educador, mas que a construção seja feita em conjunto. "O educador não faz planejamentos de aula; ensina os alunos a planejar e a se planejar. Ele não prepara materiais para os alunos. Os alunos é que criam os materiais com os professores, à medida que vão produzindo conhecimento e os desejam partilhar", diz Pacheco, que hoje vive no Brasil e coordena um projeto dentro da mesma linha.
Ensinar a pesquisar e mediar os processos de aprendizagem são as outras tarefas de quem trabalha em escolas como a Ponte, o Amorim e a Lumiar. Na escola pública do Butantã, a formação dos professores fica por conta da rotina. Ana Elisa afirma que os educadores não recebem capacitação antes de chegar à instituição, mas que as questões são debatidas diariamente, em horas de estudo. "Existe um enfrentamento por conta de expectativa de polivalência, já que todos têm de lidar com vários conteúdos. Mas eles têm acesso a todo o material e trocam experiências constantemente", explica.
Pacheco reconhece problemas e propõe questionamentos ao trabalho realizado. "Os nichos de inovação e mudança ainda são construídos à custa da dedicação e sacrifício. As escolas continuam expostas à incompreensão, à burocracia. Apesar de já contar quase 40 anos de projeto, a Ponte não é exceção", diz. Confrontar-se com o insucesso de alunos deve ser, em sua opinião, outro estímulo para buscar soluções que vão muito além de colocar a culpa no sistema. Para isso, é preciso construir em comunidade novas formas de construir o conhecimento.



“Reportagens”

Abaixo algumas reportagens sobre educação, professores e tudo que engloba o Ensino e a Formação de professores.


“1º Reportagem”

“Segundo Fernando Haddad, a formação docente é prioridade para o Ministério”
"Dar aula não é nada simples. Talvez seja a atividade mais sofisticada que a espécie humana já concebeu." A afirmação, do ministro Fernando Haddad, justifica a ênfase que o Ministério da Educação (MEC) está dando à formação de professores do Ensino Fundamental. Dos 10 bilhões de reais a mais que o MEC terá no orçamento de 2009 (na comparação com o deste ano), essa será uma área de destaque em investimento. E os cursos de Pedagogia e o Normal Superior foram considerados - ao lado dos de Medicina e Direito - prioritários numa lista de avaliações nacionais de faculdades e universidades.
Aprimorar a formação docente é uma missão complexa. Como se pode ver na pesquisa que norteia a reportagem de capa desta edição , o curso de Pedagogia está muito distante das necessidades de quem leciona. Para aproximar o currículo do "chão da escola", deve ser criado, agora, em outubro, o Sistema Nacional de Formação do Magistério. A iniciativa prevê uma articulação entre os dirigentes municipais e estaduais e as instituições de Ensino Superior para que elas diplomem cerca de 70 mil educadores por ano. Sobre o tema, tão importante para o futuro de nossa Educação, o ministro concedeu a seguinte entrevista a NOVA ESCOLA.

A pesquisa que inspira a reportagem de capa desta edição mostra que o curso de Pedagogia não é focado nas práticas de ensino e nos conteúdos que devem ser ensinados às crianças. Por que chegamos a essa situação? 

FERNANDO HADDAD É preciso lembrar como surgiu esse imbróglio sobre a formação dos professores de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Até algumas décadas atrás, havia apenas o Magistério de nível Médio. Com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de 1996, houve a tentativa de definir a obrigatoriedade de ter um diploma de Ensino Superior para lecionar. Mas isso só foi resolvido em 2003, pelo Conselho Nacional de Educação. Esse período de indefinição provocou o esvaziamento do Magistério de nível Médio e, ao mesmo tempo, os Institutos Superiores de Educação não ocuparam esse espaço. Por sua vez, a Pedagogia continuou sendo um curso genérico, sem dar ênfase às práticas de sala de aula. 

Como mudar esse cenário? 

HADDAD Justamente porque o curso de Pedagogia não está preparado para formar professores, esse é o desafio do Sistema Nacional de Formação do Magistério, que pretendemos lançar ainda este mês, se possível no dia 15, Dia do Professor. Queremos que as universidades públicas sejam elas federais estaduais ou municipais, se comprometam com a formação dos professores da rede pública. É preciso também que as faculdades adaptem os currículos dos cursos de Pedagogia à realidade da sala de aula.

Quem será responsável pela implantação desse projeto? 

HADDAD A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, organismo ligado ao MEC). Nos últimos anos, ela se especializou em avaliar cursos de pós-graduação e capacitar docentes que atuam nas próprias universidades, mas a ideia é fazê-la retomar sua missão original, de formar pessoal (em nível superior) para atuar em todas as etapas, a partir da Educação Infantil. Para isso, o Ministério praticamente dobrou o orçamento da Capes, que passou a ter 1 bilhão de reais só para esse fim.

As universidades têm autonomia para organizar seus cursos. Como a Capes poderá convencê-las a modificar os currículos? 

HADDAD Da mesma forma como faz hoje: por indução, apontando caminhos e boas práticas. A Capes está preparada para atender à expansão das universidades federais e dos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia, cuja ênfase é as licenciaturas. Por lei, cabe a ela pagar bolsas de estudo as participantes de programas de formação inicial e continuada de docentes da Educação Básica. Além disso, o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, que avalia as licenciaturas) também funciona como indutor. Se estamos avaliando a aprendizagem das crianças e dos jovens, por meio da Prova Brasil, temos de avaliar a capacidade dos professores de ensinar o que interessa para a escola. Os graduados em Pedagogia e nas licenciaturas estão preparados para lecionar? Se as perguntas forem bem elaboradas, o Enade pode nos ajudar a responder. Até agora, a temática específica - ligada à didática e à relação ensino/aprendizagem - não era o foco, mas as provas serão reformuladas. 

Que outros objetivos têm o Sistema Nacional de Formação? 

HADDAD Uma das diretrizes é estabelecer nexo entre as várias ações do MEC voltadas para a Educação Básica. Hoje ninguém é capaz de responder se existe compatibilidade entre os programas de formação inicial, as diretrizes das licenciaturas, a compra de livros didáticos, a Prova Brasil e o Enade. Nossa meta é alinhar o que está sendo ensinado e o que está sendo avaliado. 

Isso levará à criação de um currículo fechado para a Educação Básica? 

HADDAD A Prova Brasil - por ser feita por escola, atribuir um conceito na escala do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e estabelecer metas - já está, indiretamente, começando a destacar pontos do currículo. As escolas sabem os conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática que são avaliados na Prova Brasil e, se quiserem fazer os alunos avançar, vão acabar se apropriando das didáticas e se pautando por essas expectativas de aprendizagem. Eu acredito nesse modelo porque muitos estudos internacionais mostram que fazer essa avaliação por escola impacta positivamente o desempenho dos estudantes - e essa melhora é observável a curto prazo. A médio e longo prazos, o que precisamos é aumentar a expectativa, elevar o teto. Investir na qualidade dos cursos superiores exige tempo. O que não podemos é ficar parados, esperando para resolver tudo no futuro. É preciso avançar no que é possível com a atual graduação. 

O que é preciso alterar no currículo dos cursos de formação? 

HADDAD No caso da Pedagogia, a questão é contrabalançar melhor o espaço que ocupam disciplinas clássicas - como Sociologia, Filosofia, Psicologia e História da Educação - com as ligadas à didática. O fato é que é preciso incluir as competências básicas sobre o dia-a-dia da sala de aula, que sempre foram uma característica do curso Normal. 

Qual é o peso da formação docente para a qualidade do ensino?
 

HADDAD Aqui, no MEC, trabalhamos simultaneamente no atendimento de três eixos (Educação Básica, Profissional e Superior) e quatro temáticas (avaliação, gestão, financiamento e formação). E eu não tenho dúvida de que a formação é, de longe, a temática mais importante. Se ela não for trabalhada, de nada adiantam recursos, boa gestão e avaliações periódicas. Só com bons professores, vamos fazer a diferença e garantir um ensino de qualidade em nosso país. 

Que outras ações podem ser implementadas com esse fim? 

HADDAD Pretendemos criar em cada estado um Fórum de Apoio à Formação do Magistério, constituído pelo secretário estadual de Educação, por representantes dos secretários municipais e pela seccional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, mais um delegado do MEC e profissionais das instituições públicas de ensino que oferecem cursos de Pedagogia e licenciaturas. Esse fórum terá como objetivo elaborar um planejamento estratégico com metas quantitativas e qualitativas. 

Quais seriam essas metas? 

HADDAD As quantitativas dizem respeito ao aumento do porcentual de professores da escola pública formados pelas universidades públicas. As qualitativas têm a ver justamente com a adequação do currículo do curso de Pedagogia às necessidades da escola. Se os dirigentes estaduais e municipais estiverem lado a lado com as instituições de ensino, trazendo suas demandas e dificuldades, e se conseguirmos organizar programas de formação continuada e alterar a inicial para atender às demandas das redes, vamos iniciar um processo no Brasil em que a União assume, via Capes, um protagonismo que nunca teve. 

Isso já deveria ter ocorrido? 

HADDAD Sem dúvida. Em minha opinião, um defeito da LDB foi ter colocado preferencialmente sobre estados e municípios a responsabilidade pela formação do Magistério - e apenas supletivamente sobre a União. Não se trata de impedir estados e municípios de oferecer cursos desse tipo. Ao contrário. Contamos com as universidades estaduais e municipais no Sistema Nacional de Formação do Magistério. Porém é o governo federal que mantém a maior parte das universidades públicas do país. E essa é uma contradição inaceitável que pretendemos alterar com a nova orientação para a Capes e uma alteração na LDB - que já foi aprovada na Câmara e no Senado e está de volta à Câmara para o aval final. A formação do Magistério deve ser feita em regime de colaboração entre União, estados e municípios, numa dinâmica em que o governo federal tenha tanto peso quanto os outros dois. 

Em muitos casos, a formação continuada está funcionando para tapar os buracos da formação inicial. Qual deveria ser o foco? 

HADDAD Para o MEC, o mais importante hoje é assegurar um bom desempenho dos estudantes em Matemática e em Língua Portuguesa. Como a Prova Brasil é focada nessas duas disciplinas, temos o Pró-letramento e o Gestar (Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar), que foram moldados tendo como base os mesmos parâmetros da prova. Mas já estamos encomendando para as universidades ações em outras áreas do conhecimento, como Ciências, História etc. 

Como fazer para que a sociedade valorize mais o trabalho dos professores e veja a escola, de fato, como o lugar capaz de transformar o país? 

HADDAD Eu acredito que a Educação vai virar um valor social quando mais gente - não importa a área de atuação, empresário, sindicalista, intelectual - perceber que é preciso melhorar a qualidade do ensino e que esse engajamento tem impacto sobretudo na vida das famílias mais humildes. Hoje, as pesquisas realizadas com pais de alunos de escolas públicas mostram que eles estão satisfeitos com a qualidade. Precisamos conscientizá-los de que ainda há muito a avançar. Infelizmente, essa é a realidade do país, mas devemos continuar lutando para fazer com que a Educação assuma esse papel fundamental que tem para mudar a realidade da população. 

É possível atrair os jovens mais brilhantes para a carreira docente? 


HADDAD Não apenas possível como também necessário. Mas isso passa por essa conscientização da sociedade. Na minha opinião, o piso salarial nacional é um passo nessa direção - um ponto de partida nada desprezível. Eu estou convencido de que até os estados mais pobres vão conseguir honrar o piso e também o artigo da lei que prevê um terço da jornada de trabalho docente para atividades extraclasse. Esse é um primeiro passo, que vai sinalizar para a juventude que a carreira do Magistério é distinta das demais por ser a única que tem um salário inicial previsto na Constituição. Falta, porém, olhar para a frente, apontar um horizonte. O jovem precisa entrar na carreira e saber aonde pode chegar. Por isso, estados, municípios e União devem entender que é preciso normatizar, em lei, a progressão na carreira. Só assim os professores poderão vislumbrar seu futuro e fazer disso um elemento motivador de sua prática. O terceiro ponto é, sem dúvida, a formação desse pessoal.



“2º Reportagem”

“Direito do professor, formação dentro da escola falha”

“Estou há 23 anos em sala de aula. Durante todo esse tempo não presenciei HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo) que faça justiça ao nome”. O desabafo feito pela professora Vilma Nardes Silva Rodrigues expõe uma das principais dificuldades que o educador enfrenta para realizar um bom trabalho: a formação interna na escola, que deveria ser rotineira, ora não existe, ora se deturpa. A questão é tema da terceira reportagem da série do iG sobre como o professor tem pouca chance de aprender a ensinar.
Em tese, a carreira dos mestres é estruturada para que ele se recicle e estude como ajudar seus alunos durante todo o tempo em que estiver na ativa. A necessidade de aprender constantemente é tão clara – ao menos na teoria – que existe legislação para garanti-la.
Por lei, um terço da carga horária remunerada do professor deve ser destinado a atividades extraclasse. Cabe neste tempo a correção de provas e trabalhos e o planejamento pedagógico, mas a recomendação do Conselho Nacional de Educação é de que os profissionais se reúnam para discutir dificuldades e soluções pedagógicas.
A maioria das redes públicas sequer cumpre a lei. Em vez de reservar 33% do tempo para que os docentes se preparem e dêem boas aulas nos outros 66%, prefeituras e Estados esperam que os profissionais já cheguem preparados. “As pessoas acham que o professor é um ser que nasce pronto. Longe disso, todos os dias há um duro trabalho de buscar novas formas de ensinar a partir do diagnóstico dos alunos, que também é trabalhoso”, diz Norman Atkins, presidente da Escola de Educação Relay, nos Estados Unidos, e um dos principais críticos ao ensino apenas teórico que os professores recebem.
Mesmo no tempo destinado à formação, poucas escolas se dedicam a encarar as dificuldades pedagógicas que os professores estão enfrentando. “Por mais que estas reuniões sejam marcadas, o conteúdo é sempre de informes sobre datas, procedimentos e burocracias”, lamenta Vilma que dá aulas em escola estadual, municipal e particular em Carapicuíba, na Grande São Paulo.
Ela conta que o tempo previsto fora de sala nas redes públicas - que não chega a um terço das aulas, mas existe – sempre tem um roteiro definido por governo ou direção. “Quando, muito esporadicamente, o tempo é para formação, a equipe se reúne sem saber o que está ocorrendo com as turmas e o tema acaba sendo um texto, uma apostila genérica, assuntos distantes do contexto da aula.”
Em uma das melhores escolas municipais de São Paulo, a Desembargador Amorim Lima, muitos professores estão prontos para admitir que não têm tempo suficiente para formação. O iG acompanhou um dia de reunião na unidade durante a semana de organização escolar, que antecede o início das aulas.
Os professores foram agrupados por módulos e passaram a maior parte do tempo ajustando horários, turmas e como funcionaria a recuperação paralela. À tarde, houve um exercício em grupo com a leitura de um texto sobre portfólio, proposto pela consultora voluntária, Fátima Pacheco, uma das fundadoras da Escola da Ponte (instituição em Portugal que conquistou alunos ao substituir a divisão tradicional em turmas e disciplinas por projetos).
Todos estavam acostumados com a palavra portfolio no sentido burocrático, ou seja, sabiam que se tratava de um documento sobre o desenvolvimento da aula que deviam apresentar. Já o sentido pedagógico, de identificar o avanço e as dificuldades de cada aluno, pegou de surpresa vários professores. Ao final, os porta-vozes dos grupos admitiram que preenchiam o documento, mas não exploravam sua função. “É algo que deveria ser trabalhado toda semana para que os educadores pudessem se ajudar, mas a maioria das escolas que visito no Brasil não usa bem”, comenta a consultora.
A diretora da unidade, Ana Elisa de Siqueira, reconhece as dificuldades de formação. “O que posso lhe garantir é que nesta escola todos estão interessados em fazer o melhor. A Fátima é benvinda e ajuda muito, mas são tantos problemas para resolver, de toda ordem, que não conseguimos focar sempre no ensino-aprendizagem.”
Apostilas expõem carência
A educadora Paula Lozano, autora de uma pesquisa para a Fundação Lemann sobre o impacto da adoção de sistemas apostilados – que dão roteiros prontos para as aulas – acha que o resultado é mais uma prova da falta de formação dos professores. Segundo sua investigação, os municípios que usavam material padronizado conseguiram melhores resultados que os demais, apesar da qualidade questionável das apostilas e do impossível nivelamento que elas pressupõem.
 “Alguns sistemas eram bem ruins e, mesmo assim, tiveram resultado melhor do que as aulas preparadas pelos docentes. Isso significa que muitos educadores não conseguem organizar exercícios e atividades para dar conta do conteúdo”, lamenta a educadora. Para ela, o Brasil devia admitir a carência na formação do professor e ampará-lo mais enfaticamente. “Na Finlândia, autonomia do professor é ótima, todos sabem como dar aulas maravilhosas. Aqui, nem tanto.”


“3º Reportagem”

“D-25 Formação de professores um exemplo da formação continuada”

É um vídeo de uma reportagem retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=8s6dNzSOFoE


“4º Reportagem”

“Educação Infantil: Cuidar, Educar e Brincar”

É um vídeo de uma reportagem retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=RiFXduOjRUI


“5º Reportagem”

“O Movimento do corpo infantil”


É um vídeo de uma reportagem retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo:



Bibliografia:


"Entrevistas"

Abaixo algumas entrevistas com professores tendo como foco a Educação. Vejamos.

“Primeira Entrevista”

“Entrevista Mario Sergio Cortella”

O professor comenta a federalização do ensino, a progressão continuada, piso salarial, formação docente e outras questões da Educação brasileira.

Texto de Eliane Scardovelli.

Foto: Ana Vitale
O filósofo Mario Sergio Cortella diz que o trabalho do professor é mais que um emprego, é fonte de vida.

Aos 7 anos de idade, o professor Mario Sergio Cortella teve hepatite, o que o obrigou a ficar em repouso por longos 4 meses. Para se distrair, começou a participar de programas de rádio. Aos 14, já comandava missas praticamente sozinho. O gosto pela mídia e por falar em público encontrou-se mais tarde com paixão pela Filosofia e pela docência. Mario Sergio graduou-se e logo foi convidado a lecionar na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde já está há 32 anos. O orientador de seu doutorado foi Paulo Freire, com quem Cortella trabalhou na prefeitura de São Paulo, durante o governo de Luiza Erundina. Sobre sua carreira como professor, ele diz: "Para mim, a docência é um gosto, um prazer, um modo de ser humano." Em entrevista concedida à repórter Eliane Scardovelli, para o projeto EDUCAR PARA CRESCER, o professor fala sobre o convívio com Paulo Freire, o dilema de colocar ou não os filhos em escola pública, a democratização do ensino, o papel da escola e outras questões fundamentais da Educação brasileira.

1. Quais são os principais problemas da Educação no Brasil?   
Mario Segio Cortella: Temos quatro problemas principais. 1) Apesar da democratização do acesso à escola - 97% das crianças de 7 a 14 anos estão no Ensino Fundamental - ainda não houve a democratização da permanência. O nível de evasão escolar, ou, como diria Paulo Freire, de expulsão escolar, é muito alto. Mesmo a democratização do acesso ainda não chegou à Educação Infantil nem ao Ensino Médio. A Educação básica é um direito subjetivo constitucional, tem de ser oferecida em seu conjunto. É alta também a distorção idade-série, ou seja, muitos alunos não estão na série correspondente à sua idade. 2) A comunidade escolar (pais, alunos, professores e funcionários) precisa se apropriar do trabalho pedagógico como protagonista, não apenas como expectadora. Isso ainda é raro. 3) A qualidade do ensino tem de melhorar e ascender a uma sólida base científica, de formação de cidadania e de solidariedade social. Isso exige um contrato de condições de trabalho diferente para os educadores e um sistema nacional de formação docente, que, aliás, está sendo organizado pelo Ministério da Educação. 4) Cerca de 10% dos adultos brasileiros adultos são analfabetos. É uma vergonha para um país que é a 10ª economia do planeta.

2. Investimos pouco em Educação?   
Mario Segio Cortella: Sim. As questões que listei como problemáticas na Educação não dependem apenas do orçamento, mas dependem dele também. Se não chegarmos a 2020 investindo pelo menos 7% do PIB não conseguiremos vencer essas barreiras. Nós estamos em um patamar de mais ou menos 4,2% do PIB, o que equivale ao investimento de países de primeiro mundo, mas eles estão em velocidade de cruzeiro, precisam de recursos para a manutenção. Nós precisamos de arranque.

3. A progressão continuada é um bom caminho para resolver o problema da distorção idade-série e promover a democratização da permanência?   
Mario Segio Cortella: Sim, mas não como está hoje. Defendo a progressão em forma de ciclos, não aquela que pode ser identificada como aprovação automática. A Lei de Diretrizes e Bases estabeleceu dois ciclos no Ensino Fundamental - de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª. Agora, com o EF de 9 anos, torna-se mais necessário trabalhar com o mínimo de 3 ciclos, de 3 anos cada. A finalidade da progressão continuada não é de facilitar a aprovação, mas sim de dificultar a reprovação burra, que acontece por falha da estrutura da escola. No Brasil, a seriação produz mais desalento do que efetividade. Quando havia estrutura seriada em todas as redes, não se percebia que as crianças chegavam à 8ª série sem estar alfabetizados direito, porque elas simplesmente não chegavam até lá. O sistema praticamente expelia o aluno. Com a progressão continuada, a criança com defasagem pelo menos é vista

4. Fala-se muito em qualidade da Educação. O que isso significa?   
Mario Segio Cortella: Qualidade não pode ser uma palavra abstrata, é aquilo que vai servir para a cidadania, para o trabalho, para existir melhor. Numa democracia, a qualidade tem de ser social. Qualidade social pressupõe quantidade total. Qualidade sem quantidade é privilégio. Devemos democratizar o acesso e a permanência para todos os níveis de ensino e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade da Educação. Não existe um único caminho para resolver os problemas de educação. Hoje, há sérias lacunas, tanto no ensino público quanto no privado. De maneira geral, a Educação brasileira ainda é muito ostentatória, muito mais apoiada na informação do que no conhecimento. Informação é cumulativa, conhecimento é seletivo. Nossas escolas têm uma herança colonial muito forte, o ensino era privilégio das elites. Para quem já tem suas condições de vida resolvidas, o conteúdo trabalhado é meramente acessório.

5. Alguns economistas defendem que, ao melhorar a Educação, melhora-se a economia e todos se beneficiam...   
Mario Segio Cortella: O Brasil é a 10ª maior economia do planeta e, segundo o ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma das piores no ranking mundial de Educação. Se essa relação fosse tão automática, não seríamos um país em condições de miserabilidade educacional. Indepentemente disso, os economistas não são nossos adversários, são nossos parceiros. É preciso que eles apontem mais diretamente e divulguem para a sociedade como se dá esse "milagre brasileiro".

6. A escola abarca muitos problemas sociais do país. Ela deixa de lado a função primeira de educar?   
Mario Segio Cortella: Com o adensamento das metrópoles e o aumento da pobreza nos últimos 30 anos, a Educação escolar assumiu o papel de rede de proteção social. As funções foram se acumulando. Apesar de não conseguir dar conta de tudo, a escola é a mais forte instância republicana que temos. O cidadão recebe dela um apoio do aparelho público que não encontra em nenhum outro lugar. Muitas vezes, em áreas de periferia, as crianças não têm nem certidão de nascimento. Só se dá falta dela pela ausência na hora da chamada. A escola pública hoje funciona como um colchão que segura muito do nosso cotidiano. Quem é de classe média não tem muita idéia do que isso significa. Muitos acham que é assistencialismo, mas temos de ter cuidado. Tudo o que é oferecido ao povo que vem do orçamento público não é doação, é devolução.

7. Quais as principais conquistas do Brasil no campo da Educação nos últimos 10 anos?   
Mario Segio Cortella: Tivemos um avanço na democratização do acesso de crianças de 7 a 14 anos no Ensino Fundamental. O número de jovens e adultos analfabetos diminuiu, mas continua alto. A comunidade passou a se envolver mais com os trabalhos educacionais, em função da formação de conselhos de escolas, colegiados e conselhos municipais de Educação. Também foram estruturadas formas de avaliação e de planejamento que não tínhamos antes. Isso não nos coloca em mundo triunfalista, mas também não é catastrófico. Estamos no caminho certo. Os últimos anos foram decisivos para a melhoria da educação pública, e isso ganha uma relevância enorme se pensarmos que 87% das vagas no Brasil de Educação básica estão nas escolas públicas.

8. Como foi o seu convívio com Paulo Freire?   
Mario Segio Cortella: Mesmo antes de conhecê-lo pessoalmente, li textos de sua autoria, como "A Pedagogia do Oprimido", "Educação como prática da liberdade" e "Cartas de Guiné Bissau" logo nos primeiros anos da faculdade de Filosofia. Por conta da ditadura militar, Paulo Freire ficou exilado de 1964 a 1979. Em 1980, começou a dar aulas na PUC-SP, onde eu já era docente. Também nessa época foi fundado o PT, e passamos a militar no partido. Em 1989, Luiza Erundina foi eleita prefeita da cidade de São Paulo, e Paulo Freire foi escolhido para secretário de Educação. Eu fui o secretário-adjunto por dois anos, e assumi a secretaria quando Paulo Freire deixou o cargo. Em seguida, foi meu orientador de doutorado, quando tivemos uma convivência mais direta, cotidiana, o que foi extremamente educativo e prazeroso para mim.

9. Que legado Paulo Freire deixou para o Brasil?    
Mario Segio Cortella: Ele nos ensinou a capacidade de recusar a falência da esperança, de não fazer a autópsia dos temas que envolvem a Educação, mas sim a biópsia. Ou seja, melhorar o que está incorreto. Ele criou o viés político do trabalho pedagógico, política não no sentido partidário, mas como ação na sociedade. Paulo Freire entendeu a relação professor-aluno a partir do universo vivencial do aluno e trouxe uma metodologia inédita dentro das perspectivas educacionais. Ele é o brasileiro com o maior número de títulos de Doutor Honoris Causa da nossa História, um dos maiores educadores.

10. Seus três filhos estudaram em escola pública?   
Mario Segio Cortella: O caçula não estudou em escola pública, mas os dois filhos mais velhos sim. Pedro, o mais novo, só foi para uma escola particular porque, na época, o governo do Estado deu início a uma política de progressão continuada sem o acompanhamento pedagógico necessário, então a qualidade do ensino caiu. Hoje, não teria dúvida em colocar um filho em escola pública. Não pela qualidade técnica, embora existam excelentes escolas não-pagas, mas pela convivência social. A escola pública oferece outras dimensões da vida coletiva. Muitas instituições particulares formam pessoas predatórias, excessivamente competitivas e materialistas. A escola que classifico como ruim não é só a que tem baixa qualidade cientifica, é a que também não se preocupa com questões sociais e de cidadania.

11. A carreira do professor é atrativa?   
Mario Segio Cortella: Depende do que se entende por sucesso na carreira. No Brasil, há cerca de 500 mil jovens fazendo magistério. Levando em conta que o professor tem uma remuneração muito baixa, trabalha muito, precisa dar aulas em mais de uma escola para se manter - o que Paulo Freire chama de sã loucura - esse é um número significativo. Dá prazer exercer uma atividade que envolve compartilhar conhecimento. A questão salarial importa, mas não é o único objetivo de alguém nesse campo. Do ponto de vista da remuneração, compensa mais manter a barraquinha de cachorro-quente na porta da escola do que ser docente. É preciso distinguir emprego de trabalho. Emprego é fonte de renda, trabalho é fonte de vida. Ser professor é um trabalho. O magistério é um jeito de existir, é uma possibilidade de ser.

12. Como está a formação dos docentes?   
Mario Segio Cortella: Bastante deficiente. Nos últimos 30 anos, os serviços de saúde, habitação, transporte e educação explodiram em termos de demanda. Os salários dos docentes foram reduzidos. À medida que a escola pública foi se tornado realmente pública, houve uma redução das condições de trabalho, e a nossa formação docente ficou prejudicada. A boa formação se dá quando é possível ir ao cinema, ao teatro, comprar livros, ler jornais, fazer cursos e quando você não se cansa demasiadamente por dar aulas em três escolas para poder sobreviver.



13. O ex-ministro Paulo Renato afirmou que há um movimento de federalização do ensino, de centralização de questões da Educação no governo federal. Estamos nesse caminho?    
Mario Segio Cortella: Isso pode acontecer, e é uma boa idéia. Precisamos concentrar algumas questões nas mãos do governo federal. É necessário, por exemplo, organizar um sistema nacional de formação docente e de avaliação do trabalho que é feito nas escolas. Essa concentração evita a dispersão e garante a autonomia das unidades federativas. Não temo essa marca de federalização que está a caminho. Vários países possuem sistemas nacionais de Educação, coisa que o Brasil não tem, mas precisa ter. O deputado Paulo Renato está certo ao identificar sinais de federalização. Ele é contra, eu sou a favor.

14. Qual sua resposta para os estados e municípios que reclamam que o piso salarial não cabe no orçamento?   
Mario Segio Cortella: Quando estados e municípios reclamam da criação do piso salarial com a justificativa de que fere a autonomia administrativa, eles não priorizam a Educação. Prioridades são transformadas em orçamentos, senão ficamos apenas nas boas intenções, nas mudanças cosméticas. Durante anos, advogou-se no Brasil a necessidade de um piso salarial nacional. Quando finalmente é implantado, dizem que não podem fazê-lo...

15. Como tornar o acesso à universidade pública menos elitizado?   
Mario Segio Cortella: Precisamos melhorar a Educação básica e a Educação de jovens e adultos. Pais bem alfabetizados fazem toda a diferença na formação das crianças, e as motivarão a continuar estudando. O Brasil deve também reservar cotas em universidades públicas para aqueles que vieram da rede pública. O governo federal aumentou o número de vagas no Ensino Superior público, mas 74% das cadeiras ainda são oferecidas pelas faculdades privadas. A oferta de vagas por instituições públicas precisa ser maior ainda.

16. Os recursos do governo federal devem ser prioritariamente destinados às faculdades públicas ou privadas?   
Mario Segio Cortella: A prioridade deve ser investir em instituições de Ensino Superior públicas, depois nas universidades comunitárias, que são aquelas que não têm fins lucrativos, e, por último, nas faculdades privadas, que fazem do ensino um negócio. Não sou contra o ProUni, mas defendo essa ordem de prioridade.

17. Qual sua opinião sobre os recentes índices da Educação, como o IDEB?   
Mario Segio Cortella: Os indicadores são positivos, mas não basta constatar problemas. Não podemos ser apenas admiradores de termômetros. Eles escancaram a situação, mas lembremos: a janela não é culpada pela paisagem. Muita gente grita contra o índice, mas a questão central é o que ele mostra.

18. O senhor usa muito o termo pedagocídio nos seus textos - que seria, grosso modo, atribuir ao professor toda a culpa pelo fracasso escolar no Brasil. A adoção de políticas de bônus por desempenho é um pedagocídio?   
Mario Segio Cortella: Sim. Vou ilustrar minha posição com um exemplo. Durante a minha gestão como secretário em São Paulo, havia um concurso de banda de fanfarras. As escolas das áreas centrais ganhavam todos os anos. As escolas de periferia tinham bandas com menos instrumentos e nunca saíam vencedoras. Isso é avaliar por desempenho? Não: é premiar os grupos mais favorecidos. Sou a favor da meritocracia, mas ela nunca será adequada enquanto não houver igualdade de condições no ponto de partida. Eu só posso avaliar os professores por desempenho se eles tiverem a mesma oferta de condições de mesma oferta de condição de melhoria.


“Segunda Entrevista”

“ENSINO SUPERIOR”

Entrevista Sonia Penin

A diretora da Faculdade de Educação da USP fala sobre a capacitação de professores e o papel da instituição para a melhoria da qualidade de ensino no país, entre outros temas

Texto de Bruna Nicolielo

Foto: Cíntia Sanchez
Sonia Penin, em sua sala na USP: "educador tem que conhecer bem a escola em que leciona e investir em atualizações"
A professora Sonia Penin comanda um dos maiores e mais prestigiados centros de formação de professores do país, a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Com a discussão crescente em torno da formação de professores -- hoje, muitas pesquisas atestam que a competência do mestre é determinante para o sucesso do aluno --, ela recorrentemente vê a instituição que dirige ser alvejada pelos críticos. Não raro, essas discussões causam mal-estar, como o episódio em que a secretária estadual da Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães, disse que os cursos eram ruins e por isso poderiam ser fechados. "Isso é leviano", diz Sonia, que acha equivocado atribuir aos cursos de formação inicial todas as dificuldades enfrentadas pelos professores.
Durante a entrevista à repórter Bruna Nicolielo, em sua sala, na Cidade Universitária, em São Paulo, ela comenta o incidente e defende a atual carga-horária do ensino da teoria, considerada excessiva por muitos especialistas. Também fala sobre o papel da USP para a melhoria do ensino no país e da importância dos cursos de formação continuada. "É neles que o professor vai ter contato com as mais novas metodologias e saber como aplicá-las na sala de aula".

1. Quais são as variáveis para ter uma Educação de qualidade?    
Sonia Penin: A qualidade da Educação depende da qualidade dos professores e, claro, a qualidade dos professores depende de quanto um país investe em Educação e quanto ela é de fato importante, não mero discurso. Preparar os alunos nesse começo de século 21 é um desafio enorme, já que é preciso resolver problemas contemporâneos e sanar as deficiências que vem desde o século 19.

2. Como formar bons professores?   
Sonia Penin: Uma formação de qualidade engloba vários aspectos. Passa pela atração e retenção dos profissionais talentosos, variável que depende da valorização da profissão e de políticas públicas de melhores salários.

3. Qual o papel da USP na melhoria da Educação nacional?   
Sonia Penin: Temos uma responsabilidade muito grande, pois somos uma referência na área. Formamos professores que, muitas vezes, vão atuar em outras instituições, formando novos professores. Ao mesmo tempo, nenhuma instituição sozinha dará conta do problema brasileiro. A USP deve ser capaz de formar bons educadores e produzir conhecimento sobre a problemática educacional. Nossa produção é muito intensa, mas não é suficiente para responder a todas as necessidades da Educação do país. Desde 2002, trabalhamos em um novo programa para formação de todas as licenciaturas a fim de integrar questões práticas e de conteúdo. Hoje, há maior articulação entre professores da Faculdade de Educação e de outras faculdades da USP.

4. Qual a importância do estágio na formação de um professor?   
Sonia Penin: O estágio tem peso muito importante na formação, pois o aluno se depara com desafios concretos e isso é fundamental para a aprendizagem. O que seria da medicina se não houvesse aulas práticas? É ela que dá sentido à teoria. E ambas precisam andar conjuntamente. Na USP, estamos tentando fazer isso ao longo do curso e não só no finalzinho. A prática no curso de pedagogia é principalmente viabilizada pelos estágios, que, aqui, correspondem a 20% do currículo. Recentemente, fui a um encontro em Copenhagen, na Dinamarca, e uma questão muito discutida lá foi sobre como recepcionar os professores novos nas escolas. Os novatos precisariam acompanhar os professores mais experientes, assistir suas aulas por um bom tempo, a exemplo do que acontece em Cingapura.


5. Muitos dizem que os cursos de formação de professores têm teoria demais. A senhora concorda?   
Sonia Penin: A teoria é muito importante, desde que esteja voltada à resolução de problemas práticos. A secretária estadual de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães, disse que os cursos, de tão ruins, deveriam ser fechados. Isso é leviano! Imputar aos cursos de formação inicial as dificuldades que os professores enfrentam hoje no ensino dos alunos das escolas de educação básica é inaceitável. Supor que um curso de formação profissional em nível superior deva tratar das reais demandas das escolas sem um embasamento teoricamente rigoroso é temerário. O trabalho está condenado ao fracasso ou à mediocridade se não se apoiar numa análise teórica e historicamente consistente. Teoria e prática, articuladas, definem uma boa profissionalização.

6. Um professor sai da faculdade preparado para enfrentar a sala de aula?   
Sonia Penin: Não. Um iniciante não dará conta de situações concretas. Por isso, a formação continuada é necessária. As faculdades precisam de novas diretrizes. As redes municipal e estadual de ensino precisam trabalhar em conjunto com as universidades. Assim, os alunos aprendem, nossos estudantes treinam e são orientados por professores daqui.

7. O que um bom professor precisa ter?   
Sonia Penin: Deve dominar fundamentos de toda ordem. Precisa ser autônomo intelectualmente, ter um pensamento lógico coerente -- é para isso que serve a teoria. Deve saber explorar todas as potencialidades cognitivas de seus alunos. Precisa saber resolver problemas, tomar as melhores decisões. Para ensinar bem, o educador tem que entender a especificidade do contexto em que está inserido, ou seja, conhecer bem a escola em que leciona, que tipo de gestão ela tem, seus alunos, a comunidade. Cada escola tem uma realidade distinta. O ensino para alunos da escola da favela de periferia é diferente do voltado para jovens de classe média, de uma escola da região central. O professor também deve saber preparar seus alunos para o momento em que vivemos, estar preparado para lidar com novas tecnologias, para trabalhar de forma dialógica com os estudantes, a fim de estimular a aprendizagem coletiva. Finalmente, deve dedicar-se a formação continuada. É nela que vai ter contato com as mais novas metodologias e saber como aplicá-las na sala de aula. A capacitação constante também vai ajudá-lo a resolver situações-problema da vida real.


8. Há disparidades regionais na formação de professores e isso se reflete na qualidade da Educação. Como resolver?   
Sonia Penin: Se bem programados, os cursos à distância são uma alternativa. A Internet e as plataformas digitais diversas podem aproximam os estudantes, por meio de grupos de trabalho e conferências, apesar da distância. O Brasil é um país continental, mas dessa forma, podemos levar novos padrões de qualidade a áreas longínquas.

“Terceira Entrevista”

Leda Scheibe: universalização da formação superior dos professores é tendência mundial.

Com mestrado e doutorado em educação e pós-doutorado na área de formação de professores no ensino superior, Leda Scheibe é professora da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Vice-presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e membro do Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ela é aposentada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde continua a trabalhar como professora titular voluntária.
Em entrevista ao Jornal do Professor, Leda Scheibe fala sobre a importância da formação superior para os professores da educação básica e diz que a exigência de uma escolaridade maior e melhor tem aumentado. “A universalização da formação superior dos professores é uma tendência mundial e cada vez mais se justifica frente aos desafios educacionais”, ressalta.
Ela acredita que, neste momento, é preciso investir no processo de discussão e aprovação do Plano Nacional de Educação para a década 2011 – 2020. Em sua opinião, o Plano Nacional de Educação é o instrumento disponível para, efetivamente, apontar estratégias que induzam estados e municípios a investir em planos de carreira e no pagamento de salários dignos aos professores.
Jornal do Professor - Qual é a importância da formação superior para os professores? Um professor com curso superior tem mais condições de ensinar do que um que tenha apenas o curso Normal?
Leda Scheibe - A FORMAÇÃO INICIAL é um momento chave da construção de uma socialização e de uma identidade profissional. A formação dos professores para a escola básica, hoje, não pode mais prescindir de uma formação em curso superior como base para sua atuação docente. Tal requisito tem fundamento na compreensão de que a valorização do professor, tão cantada em prosa e verso, depende não apenas, mas também, de uma formação aprimorada, valorizada pela profundidade dos estudos e mesmo pelo tempo de formação.
O professor é um profissional que lida com formação de crianças, jovens e mesmo de adultos, e que tem como principal conteúdo para o seu trabalho, o conhecimento. Isto não é pouca coisa - sua tarefa é socializar o conhecimento sistematizado, fazer a mediação entre a cultura e o educando, formar indivíduos críticos... Cada vez mais as pessoas precisam para sua sobrevivência, dominar o conhecimento que se amplia dia a dia... Mais e melhor escolaridade é, portanto, uma exigência que só tem se ampliado. O professor está no centro deste movimento que incorpora cada vez mais informações e necessita cada vez mais, para isto, uma formação sólida e cultural, que extrapola a que diz respeito unicamente à disciplina na qual será docente, e o conteúdo pedagógico.
Profissionais cada vez mais qualificados e permanentemente atualizados são exigências do trabalho docente que se complexifica e requer do professor um papel de intelectual no sentido que lhe deu Gramsci. O panorama atual revela que é de se esperar que mais e maiores cobranças recaiam sobre os professores, exigindo deste uma compreensão ampliada do mundo, do trabalho, da ciência, da cultura... A educação pouco pode avançar se o professor não tiver este perfil de pessoa com uma compreensão da cultura, para além dos conhecimentos específicos da sua área de trabalho.
A universalização da formação superior dos professores é uma tendência mundial e cada vez mais se justifica frente aos desafios educacionais.

JP - Como a senhora avalia a formação dos professores, de maneira geral? As instituições de ensino estão preparadas para formar bons professores?
LS - A formação de professores no Brasil é um desafio para seus governantes e para as instituições de ensino que abrigam os cursos que ofertam esta formação. Há instituições preparadas para um bom ensino e no qual os profissionais podem ser bem formados. Mas o que caracteriza, de uma maneira geral, esta oferta, é a condição desigual que temos hoje nos processos de formação de professores: presencial, a distância, três ou quatro anos para a realização dos cursos, ensino diurno e noturno, instituições públicas e privadas etc. Cinco formatos institucionais dão hoje abrigo aos cursos de formação de professores: escolas normais de nível médio; universidades que oferecem os cursos de licenciatura; instituições de ensino superior (IES) em geral, ou seja, centros universitários, faculdades integradas ou faculdades isoladas que oferecem licenciaturas em geral; institutos superiores de educação, criados pela LDB/1996, para funcionar no interior das IES e para assumir toda a formação inicial e continuada de professores; institutos federais de educação tecnológica (IFETS) que podem ofertar tanto as licenciaturas tradicionais com licenciaturas específicas para a educação profissional.
A desigualdade nos processos de formação é preocupante por incorporar desigualdade na qualidade da formação. É um desafio para o país, portanto, romper com o processo histórico de desvalorização social do professor, e caminhar no sentido de uma qualidade de formação mais igualitária.
A formação de professores é sobretudo um problema político: é atravessada pela concepção de sociedade e de projeto de futuro para uma país. Por isso, é preciso destacar que os currículos de formação dos docentes passam por definições nas quais os projetos societários de nação estão presentes de alguma forma, e, portanto, concepções em disputa atravessam os projetos de formação. Como encarar nos projetos de formação dos nossos quadros docentes os novos quadros teóricos, os novos aportes do desenvolvimento científico, os novos equacionamentos dos tempos e dos espaços que requer a virtualidade frente à prática pedagógica? São desafios postos...
Há que apostar, portanto, em processos formativos de docentes cada vez mais inseridos nas novas exigências da atualidade, sem deixar de levar em conta, ao lado da preparação técnica e conteudista dos professores, das necessidades de mudança social , a perspectiva da inclusão escolar, do direito à educação, das necessidades coletivas se sobrepondo ao individualismo, da multidisciplinaridade etc.

JP - Dados do Censo da Educação Básica de 2010 revelam que do total de dois milhões de professores, 1,4 milhão têm idade entre 33 e mais de 50 anos. Como a senhora avalia isso?
LS - Com preocupação. Os dados oficiais também têm revelado que a procura pelos cursos de licenciatura tem decaído nos últimos anos, mesmo que haja oferta de vagas no mercado de trabalho. Isto revela o quanto a carreira docente não é uma profissão atrativa para os jovens.

JP - O que é necessário fazer para atrair para as carreiras docentes os jovens que estão ingressando nas universidades?
LS - Sabe-se que esta questão passa pelo salário dos professores, pela falta de carreira docente na maior parte dos sistemas de ensino no país, pelas condições concretas de trabalho, nas escolas, e também pelo cuidado com sua formação na graduação. No momento, certamente cabem medidas tais como bolsas de estudo para ingressantes nas licenciaturas, não apenas para que possam desenvolver a sua formação com tempo para estudar e manter-se como estudante, sem precisar trabalhar e necessitar apelar para curso noturno. Mas também para que sejam atraídos para os cursos de licenciatura.

JP - Como senhora vê a avaliação de professores?
LS - Esta é uma questão que está em pauta, por diversas razões. Por um lado, pela efetiva necessidade de avaliar o trabalho docente para detectar suas necessidades, rever as posturas dos docentes, sentir o que falta em termos didático-pedagógicos e também de conhecimento curricular... Enfim, pela importância diagnóstica que tem a avaliação, como um elemento de promoção do trabalho docente e das condições de ensino.
Por outro lado, há hoje uma insistência avaliativa no sentido daquilo que está sendo denominado de responsabilização do professor pelos resultados da aprendizagem dos alunos, e sua culpabilização por fatores relacionados com a falta de condições educacionais.
Garantir a qualidade da educação nas escolas e promover a educação profissional dos professores é uma necessidade. Promover o crescimento profissional do professor. Mas usar, por exemplo, o desempenho dos alunos em testes específicos para avaliar as habilidades do professor pode representar equívocos que passam por fatores que vão além do controle do professor.
Penso ser necessário rever a ascensão da avaliação de resultados e fazer da avaliação um elemento da formação humana e não da exclusão (segregação das camadas mais pobres em guetos escolares, desestruturação profissional do magistério, ansiedade dos atores educacionais, ranqueamento das escolas etc). Considero necessária a avaliação do estágio probatório dos professores como um exemplo da avaliação como elemento de formação. No sentido de um acompanhamento do trabalho de quem se inicia na carreira profissional. O estágio probatório é um momento privilegiado de aprendizagem para o profissional docente. Mas seria necessária a participação de professores experientes neste processo de avaliação, como orientadores do trabalho. Sabemos que, mesmo constituídos como exigência pela Constituição brasileira e por leis estaduais, os estágios probatórios não estão sendo efetivamente implementados.

JP - O que os professores podem fazer para enfrentar os desafios da carreira?
LS - Ações de diversas naturezas podem ser feitas para enfrentar os desafios da carreira pelos professores. Professores são pessoas com idéias, com experiências, com imaginação, com ideais. Mas principalmente são uma categoria profissional, o que exige deles/delas ações integradas. Seja na escola, no sindicato ou em outras associações vinculadas ao trabalho docente. Movimentos de solidariedade para com as necessidades coletivas. Formar equipes multidisciplinares nas escolas para ampliar o seu olhar. Construir com os outros profissionais da educação, no sindicato dos professores, instrumento de avaliação dos professores. Socializar bons planos de aula na internet. Lutar para ampliar o tempo de convivência na escola e por mais tempo para planejar suas atividades. Novas tecnologias da comunicação requerem mudanças.

JP - O Ministro da Educação defende a valorização do magistério e entende que o piso salarial e a carreira não devem ser dissociados. Como fazer com que estados e municípios invistam em planos de carreira e paguem o piso salarial do professor?
LS - Neste momento é preciso investir no processo de discussão e aprovação do Plano Nacional de Educação para a década 2011 – 2020. É importante ter clareza sobre a indissociabilidade entre questões de formação, condições de trabalho, salário e carreira para a valorização do magistério. O Plano Nacional de Educação é, no momento, o instrumento que temos para efetivamente apontar estratégias que induzam os estados e municípios a investir em planos de carreira e no pagamento de salários dignos para os seus professores. Recentemente a Conferência Brasileira de Educação (Conae) discutiu à exaustão a necessidade de criação de um Sistema Nacional de Educação para que a nação não fique refém de políticas educacionais setorizadas que desconsideram a necessidade de dar prioridade à educação. Como o Brasil é um país federativo, a adesão às políticas que têm sido discutidas e definidas nacionalmente como fundamentais para o crescimento educacional fica à mercê de determinadas coações... Mas é preciso pelo menos cumprir a lei, neste país. E a lei determina a existência de um piso salarial mínimo e a existência de planos de carreira em todos os sistemas de ensino.


“Quarta Entrevista”

Nova Escola?!?! A formação do professor e a chegada da geração Y na sala de aula”

É um vídeo de uma entrevista retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo que foi dividido em duas partes:



“Quinta Entrevista”

“Empregos: formação de pedagogo em alta no Brasil”

É um vídeo de uma entrevista retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo:



“Sexta Entrevista”

“Entrevista - Formação de Professores - Marcos Lorieri”

É um vídeo de uma entrevista retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo: 




Bibliografia: