Abaixo
algumas entrevistas com professores tendo como foco a Educação. Vejamos.
“Primeira
Entrevista”
“Entrevista
Mario Sergio Cortella”
O
professor comenta a federalização do ensino, a progressão continuada, piso
salarial, formação docente e outras questões da Educação brasileira.
Texto de Eliane Scardovelli.
Sonia
Penin, em sua sala na USP: "educador tem que conhecer bem a escola em que
leciona e investir em atualizações"
A
professora Sonia Penin comanda um dos maiores e mais prestigiados centros de
formação de professores do país, a Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo (USP). Com a discussão crescente em torno da formação de professores --
hoje, muitas pesquisas atestam que a competência do mestre é determinante para
o sucesso do aluno --, ela recorrentemente vê a instituição que dirige ser
alvejada pelos críticos. Não raro, essas discussões causam mal-estar, como o
episódio em que a secretária estadual da Educação de São Paulo, Maria Helena
Guimarães, disse que os cursos eram ruins e por isso poderiam ser fechados.
"Isso é leviano", diz Sonia, que acha equivocado atribuir aos cursos
de formação inicial todas as dificuldades enfrentadas pelos professores.
Durante
a entrevista à repórter Bruna Nicolielo, em sua sala, na Cidade Universitária,
em São Paulo, ela comenta o incidente e defende a atual carga-horária do ensino
da teoria, considerada excessiva por muitos especialistas. Também fala sobre o
papel da USP para a melhoria do ensino no país e da importância dos cursos de
formação continuada. "É neles que o professor vai ter contato com as mais
novas metodologias e saber como aplicá-las na sala de aula".
1. Quais são as variáveis para ter
uma Educação de qualidade?
Sonia
Penin: A qualidade da Educação depende da qualidade dos professores e, claro, a
qualidade dos professores depende de quanto um país investe em Educação e
quanto ela é de fato importante, não mero discurso. Preparar os alunos nesse
começo de século 21 é um desafio enorme, já que é preciso resolver problemas
contemporâneos e sanar as deficiências que vem desde o século 19.
2. Como formar bons
professores?
Sonia
Penin: Uma formação de qualidade engloba vários aspectos. Passa pela atração e
retenção dos profissionais talentosos, variável que depende da valorização da
profissão e de políticas públicas de melhores salários.
3. Qual o papel da USP na melhoria
da Educação nacional?
Sonia
Penin: Temos uma responsabilidade muito grande, pois somos uma referência na
área. Formamos professores que, muitas vezes, vão atuar em outras instituições,
formando novos professores. Ao mesmo tempo, nenhuma instituição sozinha dará
conta do problema brasileiro. A USP deve ser capaz de formar bons educadores e
produzir conhecimento sobre a problemática educacional. Nossa produção é muito
intensa, mas não é suficiente para responder a todas as necessidades da
Educação do país. Desde 2002, trabalhamos em um novo programa para formação de
todas as licenciaturas a fim de integrar questões práticas e de conteúdo. Hoje,
há maior articulação entre professores da Faculdade de Educação e de outras
faculdades da USP.
4. Qual a importância do estágio na
formação de um professor?
Sonia
Penin: O estágio tem peso muito importante na formação, pois o aluno se depara
com desafios concretos e isso é fundamental para a aprendizagem. O que seria da
medicina se não houvesse aulas práticas? É ela que dá sentido à teoria. E ambas
precisam andar conjuntamente. Na USP, estamos tentando fazer isso ao longo do
curso e não só no finalzinho. A prática no curso de pedagogia é principalmente
viabilizada pelos estágios, que, aqui, correspondem a 20% do currículo.
Recentemente, fui a um encontro em Copenhagen, na Dinamarca, e uma questão muito
discutida lá foi sobre como recepcionar os professores novos nas escolas. Os
novatos precisariam acompanhar os professores mais experientes, assistir suas
aulas por um bom tempo, a exemplo do que acontece em Cingapura.
5. Muitos dizem que os cursos de formação
de professores têm teoria demais. A senhora concorda?
Sonia
Penin: A teoria é muito importante, desde que esteja voltada à resolução de
problemas práticos. A secretária estadual de Educação de São Paulo, Maria
Helena Guimarães, disse que os cursos, de tão ruins, deveriam ser fechados.
Isso é leviano! Imputar aos cursos de formação inicial as dificuldades que os
professores enfrentam hoje no ensino dos alunos das escolas de educação básica
é inaceitável. Supor que um curso de formação profissional em nível superior
deva tratar das reais demandas das escolas sem um embasamento teoricamente
rigoroso é temerário. O trabalho está condenado ao fracasso ou à mediocridade
se não se apoiar numa análise teórica e historicamente consistente. Teoria e
prática, articuladas, definem uma boa profissionalização.
6. Um professor sai da faculdade
preparado para enfrentar a sala de aula?
Sonia
Penin: Não. Um iniciante não dará conta de situações concretas. Por isso, a
formação continuada é necessária. As faculdades precisam de novas diretrizes.
As redes municipal e estadual de ensino precisam trabalhar em conjunto com as
universidades. Assim, os alunos aprendem, nossos estudantes treinam e são
orientados por professores daqui.
7. O que um bom professor precisa ter?
Sonia
Penin: Deve dominar fundamentos de toda ordem. Precisa ser autônomo
intelectualmente, ter um pensamento lógico coerente -- é para isso que serve a
teoria. Deve saber explorar todas as potencialidades cognitivas de seus alunos.
Precisa saber resolver problemas, tomar as melhores decisões. Para ensinar bem,
o educador tem que entender a especificidade do contexto em que está inserido,
ou seja, conhecer bem a escola em que leciona, que tipo de gestão ela tem, seus
alunos, a comunidade. Cada escola tem uma realidade distinta. O ensino para
alunos da escola da favela de periferia é diferente do voltado para jovens de
classe média, de uma escola da região central. O professor também deve saber
preparar seus alunos para o momento em que vivemos, estar preparado para lidar
com novas tecnologias, para trabalhar de forma dialógica com os estudantes, a
fim de estimular a aprendizagem coletiva. Finalmente, deve dedicar-se a
formação continuada. É nela que vai ter contato com as mais novas metodologias
e saber como aplicá-las na sala de aula. A capacitação constante também vai
ajudá-lo a resolver situações-problema da vida real.
8. Há disparidades regionais na
formação de professores e isso se reflete na qualidade da Educação. Como
resolver?
Sonia
Penin: Se bem programados, os cursos à distância são uma alternativa. A
Internet e as plataformas digitais diversas podem aproximam os estudantes, por
meio de grupos de trabalho e conferências, apesar da distância. O Brasil é um
país continental, mas dessa forma, podemos levar novos padrões de qualidade a
áreas longínquas.
“Terceira Entrevista”
Leda Scheibe: universalização da
formação superior dos professores é tendência mundial.
Com mestrado e
doutorado em educação e pós-doutorado na área de formação de professores no
ensino superior, Leda Scheibe é professora da Universidade do Oeste de Santa
Catarina (Unoesc). Vice-presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação (Anped) e membro do Conselho Técnico Científico da
Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), ela é aposentada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
onde continua a trabalhar como professora titular voluntária.
Em entrevista ao Jornal
do Professor, Leda Scheibe fala sobre a importância da formação superior para
os professores da educação básica e diz que a exigência de uma escolaridade
maior e melhor tem aumentado. “A universalização da formação superior dos
professores é uma tendência mundial e cada vez mais se justifica frente aos
desafios educacionais”, ressalta.
Ela acredita que, neste
momento, é preciso investir no processo de discussão e aprovação do Plano
Nacional de Educação para a década 2011 – 2020. Em sua opinião, o Plano
Nacional de Educação é o instrumento disponível para, efetivamente, apontar
estratégias que induzam estados e municípios a investir em planos de carreira e
no pagamento de salários dignos aos professores.
Jornal do Professor -
Qual é a importância da formação superior para os professores? Um professor com
curso superior tem mais condições de ensinar do que um que tenha apenas o curso
Normal?
Leda Scheibe - A
FORMAÇÃO INICIAL é um momento chave da construção de uma socialização e de uma
identidade profissional. A formação dos professores para a escola básica, hoje,
não pode mais prescindir de uma formação em curso superior como base para sua
atuação docente. Tal requisito tem fundamento na compreensão de que a
valorização do professor, tão cantada em prosa e verso, depende não apenas, mas
também, de uma formação aprimorada, valorizada pela profundidade dos estudos e
mesmo pelo tempo de formação.
O professor é um
profissional que lida com formação de crianças, jovens e mesmo de adultos, e
que tem como principal conteúdo para o seu trabalho, o conhecimento. Isto não é
pouca coisa - sua tarefa é socializar o conhecimento sistematizado, fazer a
mediação entre a cultura e o educando, formar indivíduos críticos... Cada vez
mais as pessoas precisam para sua sobrevivência, dominar o conhecimento que se
amplia dia a dia... Mais e melhor escolaridade é, portanto, uma exigência que
só tem se ampliado. O professor está no centro deste movimento que incorpora
cada vez mais informações e necessita cada vez mais, para isto, uma formação
sólida e cultural, que extrapola a que diz respeito unicamente à disciplina na
qual será docente, e o conteúdo pedagógico.
Profissionais cada vez
mais qualificados e permanentemente atualizados são exigências do trabalho
docente que se complexifica e requer do professor um papel de intelectual no
sentido que lhe deu Gramsci. O panorama atual revela que é de se esperar que
mais e maiores cobranças recaiam sobre os professores, exigindo deste uma
compreensão ampliada do mundo, do trabalho, da ciência, da cultura... A
educação pouco pode avançar se o professor não tiver este perfil de pessoa com
uma compreensão da cultura, para além dos conhecimentos específicos da sua área
de trabalho.
A universalização da
formação superior dos professores é uma tendência mundial e cada vez mais se
justifica frente aos desafios educacionais.
JP
- Como a senhora avalia a formação dos professores, de maneira geral? As
instituições de ensino estão preparadas para formar bons professores?
LS - A formação de
professores no Brasil é um desafio para seus governantes e para as instituições
de ensino que abrigam os cursos que ofertam esta formação. Há instituições
preparadas para um bom ensino e no qual os profissionais podem ser bem
formados. Mas o que caracteriza, de uma maneira geral, esta oferta, é a
condição desigual que temos hoje nos processos de formação de professores:
presencial, a distância, três ou quatro anos para a realização dos cursos,
ensino diurno e noturno, instituições públicas e privadas etc. Cinco formatos
institucionais dão hoje abrigo aos cursos de formação de professores: escolas
normais de nível médio; universidades que oferecem os cursos de licenciatura;
instituições de ensino superior (IES) em geral, ou seja, centros
universitários, faculdades integradas ou faculdades isoladas que oferecem
licenciaturas em geral; institutos superiores de educação, criados pela
LDB/1996, para funcionar no interior das IES e para assumir toda a formação
inicial e continuada de professores; institutos federais de educação
tecnológica (IFETS) que podem ofertar tanto as licenciaturas tradicionais com
licenciaturas específicas para a educação profissional.
A desigualdade nos
processos de formação é preocupante por incorporar desigualdade na qualidade da
formação. É um desafio para o país, portanto, romper com o processo histórico
de desvalorização social do professor, e caminhar no sentido de uma qualidade
de formação mais igualitária.
A formação de
professores é sobretudo um problema político: é atravessada pela concepção de
sociedade e de projeto de futuro para uma país. Por isso, é preciso destacar
que os currículos de formação dos docentes passam por definições nas quais os
projetos societários de nação estão presentes de alguma forma, e, portanto,
concepções em disputa atravessam os projetos de formação. Como encarar nos
projetos de formação dos nossos quadros docentes os novos quadros teóricos, os
novos aportes do desenvolvimento científico, os novos equacionamentos dos
tempos e dos espaços que requer a virtualidade frente à prática pedagógica? São
desafios postos...
Há que apostar,
portanto, em processos formativos de docentes cada vez mais inseridos nas novas
exigências da atualidade, sem deixar de levar em conta, ao lado da preparação
técnica e conteudista dos professores, das necessidades de mudança social , a
perspectiva da inclusão escolar, do direito à educação, das necessidades
coletivas se sobrepondo ao individualismo, da multidisciplinaridade etc.
JP
- Dados do Censo da Educação Básica de 2010 revelam que do total de dois milhões
de professores, 1,4 milhão têm idade entre 33 e mais de 50 anos. Como a senhora
avalia isso?
LS - Com preocupação.
Os dados oficiais também têm revelado que a procura pelos cursos de
licenciatura tem decaído nos últimos anos, mesmo que haja oferta de vagas no
mercado de trabalho. Isto revela o quanto a carreira docente não é uma
profissão atrativa para os jovens.
JP
- O que é necessário fazer para atrair para as carreiras docentes os jovens que
estão ingressando nas universidades?
LS - Sabe-se que esta questão
passa pelo salário dos professores, pela falta de carreira docente na maior
parte dos sistemas de ensino no país, pelas condições concretas de trabalho,
nas escolas, e também pelo cuidado com sua formação na graduação. No momento,
certamente cabem medidas tais como bolsas de estudo para ingressantes nas
licenciaturas, não apenas para que possam desenvolver a sua formação com tempo
para estudar e manter-se como estudante, sem precisar trabalhar e necessitar
apelar para curso noturno. Mas também para que sejam atraídos para os cursos de
licenciatura.
JP
- Como senhora vê a avaliação de professores?
LS - Esta é uma questão
que está em pauta, por diversas razões. Por um lado, pela efetiva necessidade
de avaliar o trabalho docente para detectar suas necessidades, rever as
posturas dos docentes, sentir o que falta em termos didático-pedagógicos e
também de conhecimento curricular... Enfim, pela importância diagnóstica que
tem a avaliação, como um elemento de promoção do trabalho docente e das
condições de ensino.
Por outro lado, há hoje
uma insistência avaliativa no sentido daquilo que está sendo denominado de
responsabilização do professor pelos resultados da aprendizagem dos alunos, e
sua culpabilização por fatores relacionados com a falta de condições educacionais.
Garantir a qualidade da
educação nas escolas e promover a educação profissional dos professores é uma
necessidade. Promover o crescimento profissional do professor. Mas usar, por
exemplo, o desempenho dos alunos em testes específicos para avaliar as
habilidades do professor pode representar equívocos que passam por fatores que
vão além do controle do professor.
Penso ser necessário
rever a ascensão da avaliação de resultados e fazer da avaliação um elemento da
formação humana e não da exclusão (segregação das camadas mais pobres em guetos
escolares, desestruturação profissional do magistério, ansiedade dos atores
educacionais, ranqueamento das escolas etc). Considero necessária a avaliação
do estágio probatório dos professores como um exemplo da avaliação como
elemento de formação. No sentido de um acompanhamento do trabalho de quem se
inicia na carreira profissional. O estágio probatório é um momento privilegiado
de aprendizagem para o profissional docente. Mas seria necessária a
participação de professores experientes neste processo de avaliação, como
orientadores do trabalho. Sabemos que, mesmo constituídos como exigência pela
Constituição brasileira e por leis estaduais, os estágios probatórios não estão
sendo efetivamente implementados.
JP
- O que os professores podem fazer para enfrentar os desafios da carreira?
LS - Ações de diversas
naturezas podem ser feitas para enfrentar os desafios da carreira pelos
professores. Professores são pessoas com idéias, com experiências, com
imaginação, com ideais. Mas principalmente são uma categoria profissional, o
que exige deles/delas ações integradas. Seja na escola, no sindicato ou em
outras associações vinculadas ao trabalho docente. Movimentos de solidariedade
para com as necessidades coletivas. Formar equipes multidisciplinares nas
escolas para ampliar o seu olhar. Construir com os outros profissionais da
educação, no sindicato dos professores, instrumento de avaliação dos
professores. Socializar bons planos de aula na internet. Lutar para ampliar o tempo
de convivência na escola e por mais tempo para planejar suas atividades. Novas
tecnologias da comunicação requerem mudanças.
JP
- O Ministro da Educação defende a valorização do magistério e entende que o
piso salarial e a carreira não devem ser dissociados. Como fazer com que
estados e municípios invistam em planos de carreira e paguem o piso salarial do
professor?
LS - Neste momento é preciso investir no
processo de discussão e aprovação do Plano Nacional de Educação para a década
2011 – 2020. É importante ter clareza sobre a indissociabilidade entre questões
de formação, condições de trabalho, salário e carreira para a valorização do
magistério. O Plano Nacional de Educação é, no momento, o instrumento que temos
para efetivamente apontar estratégias que induzam os estados e municípios a
investir em planos de carreira e no pagamento de salários dignos para os seus
professores. Recentemente a Conferência Brasileira de Educação (Conae) discutiu
à exaustão a necessidade de criação de um Sistema Nacional de Educação para que
a nação não fique refém de políticas educacionais setorizadas que desconsideram
a necessidade de dar prioridade à educação. Como o Brasil é um país federativo,
a adesão às políticas que têm sido discutidas e definidas nacionalmente como fundamentais
para o crescimento educacional fica à mercê de determinadas coações... Mas é
preciso pelo menos cumprir a lei, neste país. E a lei determina a existência de
um piso salarial mínimo e a existência de planos de carreira em todos os
sistemas de ensino.
“Quarta Entrevista”
“Nova
Escola?!?! A formação do professor e a chegada da geração Y na sala de aula”
É um vídeo de uma
entrevista retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo que foi
dividido em duas partes:
“Quinta Entrevista”
“Empregos: formação de pedagogo em alta no
Brasil”
É um vídeo de
uma entrevista retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo:
“Sexta Entrevista”
“Entrevista - Formação de
Professores - Marcos Lorieri”
É um vídeo de uma
entrevista retirada do youtube, abaixo o link de acesso ao vídeo:
Bibliografia:
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